Reflexões sobre pausas, amadurecimento e a retomada de um olhar sobre minha cidade natal
Eu não me lembro exatamente quando surgiu o desejo de fazer este projeto, mas sempre pensei em algo relacionado à minha cidade natal, Pomerode (SC). Entre 2010 e 2016, produzi algumas fotografias em longa exposição das paisagens e de algumas casas enxaimel. No entanto, mesmo estando muito envolvido com meu trabalho nessa técnica, sempre senti que faltava algo nessas imagens.

Em 2018, comecei a estudar o trabalho de alguns fotógrafos, entre eles Bryan Schutmaat, Alec Soth e Nadav Kander. Foram as fotografias do livro Grays the Mountain Sends, de Bryan, com seus belíssimos retratos, paisagens e a poesia presente em cada imagem deste trabalho – que foi desenvolvido em pequenas cidades mineradoras dos Estados Unidos – que acenderam a primeira chama para este projeto. Ainda em 2018 e 2019, fiz as primeiras fotografias usando minha câmera de filme, uma Mamiya RB67.
Então, 2020 chegou trazendo uma grande reviravolta para todos nós. A pandemia me impediu de dar sequência ao projeto, e assim se passaram cinco anos sem que eu tirasse uma única fotografia para ele. Não que eu não tenha viajado para o sul nesse período, mas as prioridades desse tempo e algo dentro de mim não estavam em sintonia para continuar o trabalho. Me arrependo um pouco de não ter insistido e me dedicado mais, mas, nas poucas e curtas viagens que fiz para o sul, acabei aproveitando para estar com minha família.

Projetos de longa duração permitem esse intervalo, um respiro na produção para que as ideias se organizem e tomem forma. Minha série Litorâneas levou cerca de quatro anos para que seu principal corpo de trabalho fosse concluído e, ainda assim, continuo produzindo algumas imagens para a série. Um outro exemplo é o trabalho mais recente de Bryan Schutmaat, Sons of the Living, que levou dez anos para ser finalizado. Em entrevista ao podcast Photo Work with Sasha Wolf, Bryan comentou que, desses dez anos, ele se dedicou em média apenas duas semanas por ano à produção das fotografias. Na última semana, estava olhando as imagens do livro King, Queen, Knave (2024), do fotógrafo Gregory Halpern, que começou esse projeto há mais de vinte anos, quando tinha 19 anos e morava em Buffalo, NY, sua cidade natal. Outros trabalhos dele também levaram de cinco a sete anos para serem concluídos.

No final de fevereiro, viajei para o sul para visitar a família e aproveitar alguns dias extras durante o feriado de Carnaval. Entre encontros familiares, visitas e almoços com amigos, consegui separar duas tardes para fotografar algumas pessoas que falam Plattdeutsch. Foram dois momentos muito especiais, marcados pela simpatia e simplicidade das famílias que me receberam e abriram as portas de suas casas para que eu pudesse registrar esse pedacinho quase esquecido de suas vidas.
Nessa viagem, levei minha câmera de filme, minha câmera digital e um gravador de áudio. No início do projeto, em 2019, estava decidido a fazer todas as fotografias em filme colorido. No entanto, ao longo desses cinco anos, os preços dos filmes quase triplicaram, o que me faz considerar a possibilidade de produzir as imagens com a câmera digital. Mas essa decisão ficará para a minha próxima viagem, pois o custo de alguns rolos de filme para uma semana de trabalho pode facilmente cobrir as despesas da viagem e deslocamentos. Para os retratos, fotografei primeiro com a câmera de filme e, em seguida, fiz alguns registros digitais, para que mais tarde eu possa avaliar os resultados com calma e tomar uma decisão baseada não apenas nos custos. Nessas duas visitas, também fiz alguns registros em vídeo com captação de áudio. Ainda não sei exatamente como vou trabalhar com esse material, mas quem sabe em uma próxima newsletter eu já tenha novidades sobre esse aspecto.

Olhando para trás, vejo esse tempo sem produzir fotografias como um período de amadurecimento, no qual não só pude me aprofundar no tema, mas também refletir sobre a melhor abordagem para fotografar as pessoas. Sei que não tenho mais cinco ou sete anos para concluir este projeto, pois a maioria das pessoas que ainda fala Plattdeutsch já está em idade avançada, o que limita muito o tempo que tenho para registrar esse aspecto da minha história.
Em breve, compartilharei mais informações sobre o projeto.
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