Vinte e um anos, doze câmeras e uma paixão
“Depois desse cartão, nunca mais vou precisar comprar outro!” – fui eu dizendo isso para um colega de trabalho no final de 2004, logo após comprar um cartão de memória de 512MB para minha câmera digital. Na época, eu tinha comprado minha primeira câmera há poucos meses, uma Canon PowerShot G5. Com seus 5 megapixels de resolução e o novo cartão, poderia tirar uma infinidade de fotos e ainda assim sobraria espaço. Mal sabia – ou poderia imaginar – que eu me tornaria um fotógrafo, e duas décadas depois, eu teria uma câmera que, com esse mesmo cartão, só permitiria tirar sete ou oito fotografias.
Antes de continuar, preciso contar como comecei na fotografia e como ela mudou minha vida.

Em 2001 (e não foi uma odisseia no espaço), comecei a trabalhar no departamento de pré-impressão de uma gráfica comercial, onde eram impressos cartazes, catálogos, folders e todo tipo de material gráfico que se possa imaginar. Nosso trabalho era preparar os arquivos enviados pelos clientes para que fossem impressos nas grandes máquinas da Heidelberg. Entre as etapas desse processo, estava a checagem das imagens, ilustrações e textos. Naquele período, muitos fotógrafos de publicidade ainda usavam cromos para seus catálogos, e, em várias ocasiões, fazíamos o escaneamento dessas imagens em alta resolução para depois substituí-las nos arquivos. Esse foi meu primeiro contato com a fotografia profissional.

Em meados de 2003, um amigo comprou uma Sony Cyber-shot com cerca de 3-5 megapixels, e me lembro da tarde nublada de sábado quando me chamou para testar a nova câmera. Fizemos algumas fotos da paisagem e outras em modo macro, até que começou uma garoa fina e insistente, nos forçando a voltar para casa. Logo depois, ele fez o download das fotos para o computador – e foi nesse momento que minha relação com a fotografia mudou. Fiquei deslumbrado como uma câmera tão pequena poderia captar detalhes tão incríveis, como uma flor e uma minúscula aranha camuflada dentro dela. Aquilo foi um caminho sem volta. Passei dias e semanas pesquisando sobre fotografia: câmeras, técnicas, fotógrafos – qualquer coisa relacionada ao universo da fotografia que, dali em diante, se tornaria minha paixão.
Nos meses seguintes, continuei imerso nas minhas pesquisas e, em 2004, comprei minha primeira câmera, a Canon G5(aquela que mencionei no início). Com ela, aprendi a fotografar e a explorar os diversos modos que a maioria das câmeras atuais possuem: prioridade de abertura, velocidade, modo manual – e, claro, usei bastante o modo automático também, rs. Cerca de um ano depois, troquei a G5 pela minha primeira câmera SLR, a Canon 300D (ou “Digital Rebel”), o que representou uma grande mudança no meu aprendizado. Ela era uma versão mais simples e barata de um modelo mais “profissional” da Canon, mas, para mim, era a melhor câmera que minhas economias permitiram comprar. Foi com ela que comecei a levar a fotografia realmente a sério, abandonando o JPEG e mergulhando no mundo do RAW (o negativo digital).

Com o tempo, outras câmeras vieram: a Canon 40D e 60D, que usei para produzir a maioria das longas exposições da série Litorâneas, em Florianópolis. Também tive uma câmera compacta a Canon S95, do tipo que cabia no bolso e era perfeita para passeios e fotografias mais despretensiosas. Em 2014, já morando em São Paulo, migrei para o “full-frame” e comprei uma Canon 6D. Alguns anos depois, no início de 2017, adquiri uma Canon 5DS R, com 50 megapixels. Escolhi esse modelo pensando principalmente em meus trabalhos autorais e de estúdio. Com ela queria produzir longas exposições panorâmicas durante minha viagem à Patagônia, em março daquele ano, e também queria ter a possibilidade de imprimir minhas fotografias com mais de 2 metros de largura sem perda de qualidade.
Além das câmeras digitais, também tive algumas câmeras de filme. A primeira foi uma Canon EOS 300, que ganhei junto com alguns cromos Fuji (Velvia e Sensia) e diversos negativos. Depois, comprei uma Canonet QL17, uma câmera compacta com lente fixa 40mm f/1.7. Pequena e discreta, era ótima para fotografar sem compromisso – muito parecida com a Fuji X100T, uma digital que tive por apenas seis meses, mas que me fazia parecer um turista por onde passava. Minhas últimas aquisições analógicas foram uma Canon EOS 30 e, meu grande xodó, a Mamiya RB67. Quando digo “grande”, é grande mesmo – pesando quase 3kg, não é exatamente a câmera mais prática para levar por aí. Tenho usado a RB67 em algumas trabalhos (Casa Cor e Jadel Almeida) e principalmente para meus trabalhos autorais e, mais recentemente, no projeto Plattdeutsch.

Nos últimos anos, tenho pensado muito em como o processo analógico influencia meu trabalho. A fotografia analógica tem ressurgido com força – tanto que Kodak e Fuji trouxeram de volta alguns filmes que haviam sido descontinuados. Apesar desse boom, os preços dos filmes e da revelação, além do complexo trabalho de escaneamento, tratamento e ajuste de cores, me fazem cogitar vender minhas câmeras analógicas e manter apenas o equipamento digital. Mas basta esquecer a questão financeira por um momento para que as cores e a sutileza dos tons me façam desistir da ideia. Fotografar com filme é simplesmente muito bom.
Vinte e um anos, doze câmeras, treze lentes, centenas de milhares de fotografias – uma simples coleção de pequenas caixas escuras e elementos óticos que me permitiram ver o mundo de um jeito único. Ah, e muitos cartões de memória.
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