Trabalhos, inspirações e notas sobre fotografia

  • O Dialeto das Imagens

    Quando pensamos em retrato fotográfico, qual imagem vem na sua memória? Existem diversas fotografias e retratos que são considerados históricos, porém se eu fizer um rápido comentário – “A Menina afegã”, acredito que a maioria das pessoas vai lembrar da fotografia registrada por Steve Mccurry. Apesar desta fotografia ser de 1984, eu a vi pela primeira vez anos mais tarde, tinha entre 10 e 12 anos numa revista Super Interessante.

    Os retratos documentais sempre me despertaram alguma curiosidade. Já na faculdade, quando comecei a me interessar pela fotografia, passava horas folheando revistas da National Geographic, no intervalo das aulas ia até a biblioteca para procurar por novas revistas e livros de fotografia. Nesse período fiz alguns retratos que possuem um valor sentimental e que considero retratos interessantes, pela sua expressão e história.

    Depois de alguns anos percebi que eu não levava muito jeito para fotografar pessoas. Sou meio tímido, introvertido e sempre achei que não levaria jeito pra coisa. Com isso, comecei a me interessar pela fotografia de paisagem, arquitetura e pela longa exposição. Quando me perguntam o que eu faço, digo que “fotografo pedras”, rs. Isso mesmo, me tornei um retratista de pedras. Elas não se mexem, simplesmente estão lá, esperando para que eu faça seu retrato. Assim, nestes últimos 15 anos me dediquei quase que exclusivamente fotografando minhas longas exposições e meus trabalhos comerciais.

    Nesse meio tempo, comecei a acompanhar e estudar o trabalho de fotógrafos documentais e me interessei novamente por retratos. Durante um café com meu amigo Gustavo Lacerda, comentei sobre a ideia de realizar um projeto (Plattdeutsch) na minha cidade natal, e ele fortemente recomendou para que  realizasse o projeto com filme 120 ou até mesmo grande formato. Assim, algum tempo depois, comprei um câmera de médio formato e filmes diversos.

    Como comentei numa newsletter anterior, o projeto ficou engavetado entre 2020 e 2024. Neste ano decidi voltar a produzir as fotografias, e estou organizando alguns viagens para o sul e ampliando minha pesquisa para outras cidades e estados: Espirito Santo, Paraná e Rio Grande do Sul onde o plattdeutsch ainda é falado. Ao final do projeto, quero reunir um conjunto de fotografias – retratos, fotografias de paisagens, registros da arquitetura e still-life – para contar a história das pessoas que ainda falam esse “dialeto” aqui no Brasil, que chegou com os imigrantes alemães no século XIX.

    Estou escrevendo os textos também no Substack e quero usar esta newsletter para divulgar o andamento dos meus projetos, compartilhar curiosidades, contar histórias dos retratados e mostrar o processo por trás das câmeras. O Plattdeutsch, é um dos projetos em que estou trabalhando este ano. O outro projeto que pretendo finalizar no segundo semestre, é a publicação do meu primeiro livro sobre a série Litorâneas.

    Sobre o livro, irei compartilhar mais informações no próximo post.


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  • Uma Vida Entre Caixas de Luz

    “Depois desse cartão, nunca mais vou precisar comprar outro!” – fui eu dizendo isso para um colega de trabalho no final de 2004, logo após comprar um cartão de memória de 512MB para minha câmera digital. Na época, eu tinha comprado minha primeira câmera há poucos meses, uma Canon PowerShot G5. Com seus 5 megapixels de resolução e o novo cartão, poderia tirar uma infinidade de fotos e ainda assim sobraria espaço. Mal sabia – ou poderia imaginar – que eu me tornaria um fotógrafo, e duas décadas depois, eu teria uma câmera que, com esse mesmo cartão, só permitiria tirar sete ou oito fotografias.

    Antes de continuar, preciso contar como comecei na fotografia e como ela mudou minha vida.

    Em 2001 (e não foi uma odisseia no espaço), comecei a trabalhar no departamento de pré-impressão de uma gráfica comercial, onde eram impressos cartazes, catálogos, folders e todo tipo de material gráfico que se possa imaginar. Nosso trabalho era preparar os arquivos enviados pelos clientes para que fossem impressos nas grandes máquinas da Heidelberg. Entre as etapas desse processo, estava a checagem das imagens, ilustrações e textos. Naquele período, muitos fotógrafos de publicidade ainda usavam cromos para seus catálogos, e, em várias ocasiões, fazíamos o escaneamento dessas imagens em alta resolução para depois substituí-las nos arquivos. Esse foi meu primeiro contato com a fotografia profissional.

    Em meados de 2003, um amigo comprou uma Sony Cyber-shot com cerca de 3-5 megapixels, e me lembro da tarde nublada de sábado quando me chamou para testar a nova câmera. Fizemos algumas fotos da paisagem e outras em modo macro, até que começou uma garoa fina e insistente, nos forçando a voltar para casa. Logo depois, ele fez o download das fotos para o computador – e foi nesse momento que minha relação com a fotografia mudou. Fiquei deslumbrado como uma câmera tão pequena poderia captar detalhes tão incríveis, como uma flor e uma minúscula aranha camuflada dentro dela. Aquilo foi um caminho sem volta. Passei dias e semanas pesquisando sobre fotografia: câmeras, técnicas, fotógrafos – qualquer coisa relacionada ao universo da fotografia que, dali em diante, se tornaria minha paixão.

    Nos meses seguintes, continuei imerso nas minhas pesquisas e, em 2004, comprei minha primeira câmera, a Canon G5(aquela que mencionei no início). Com ela, aprendi a fotografar e a explorar os diversos modos que a maioria das câmeras atuais possuem: prioridade de abertura, velocidade, modo manual – e, claro, usei bastante o modo automático também, rs. Cerca de um ano depois, troquei a G5 pela minha primeira câmera SLR, a Canon 300D (ou “Digital Rebel”), o que representou uma grande mudança no meu aprendizado. Ela era uma versão mais simples e barata de um modelo mais “profissional” da Canon, mas, para mim, era a melhor câmera que minhas economias permitiram comprar. Foi com ela que comecei a levar a fotografia realmente a sério, abandonando o JPEG e mergulhando no mundo do RAW (o negativo digital).

    Com o tempo, outras câmeras vieram: a Canon 40D e 60D, que usei para produzir a maioria das longas exposições da série Litorâneas, em Florianópolis. Também tive uma câmera compacta a Canon S95, do tipo que cabia no bolso e era perfeita para passeios e fotografias mais despretensiosas. Em 2014, já morando em São Paulo, migrei para o “full-frame” e comprei uma Canon 6D. Alguns anos depois, no início de 2017, adquiri uma Canon 5DS R, com 50 megapixels. Escolhi esse modelo pensando principalmente em meus trabalhos autorais e de estúdio. Com ela queria produzir longas exposições panorâmicas durante minha viagem à Patagônia, em março daquele ano, e também queria ter a possibilidade de imprimir minhas fotografias com mais de 2 metros de largura sem perda de qualidade.

    Além das câmeras digitais, também tive algumas câmeras de filme. A primeira foi uma Canon EOS 300, que ganhei junto com alguns cromos Fuji (Velvia e Sensia) e diversos negativos. Depois, comprei uma Canonet QL17, uma câmera compacta com lente fixa 40mm f/1.7. Pequena e discreta, era ótima para fotografar sem compromisso – muito parecida com a Fuji X100T, uma digital que tive por apenas seis meses, mas que me fazia parecer um turista por onde passava. Minhas últimas aquisições analógicas foram uma Canon EOS 30 e, meu grande xodó, a Mamiya RB67. Quando digo “grande”, é grande mesmo – pesando quase 3kg, não é exatamente a câmera mais prática para levar por aí. Tenho usado a RB67 em algumas trabalhos (Casa Cor e Jadel Almeida) e principalmente para meus trabalhos autorais e, mais recentemente, no projeto Plattdeutsch.

    Nos últimos anos, tenho pensado muito em como o processo analógico influencia meu trabalho. A fotografia analógica tem ressurgido com força – tanto que Kodak e Fuji trouxeram de volta alguns filmes que haviam sido descontinuados. Apesar desse boom, os preços dos filmes e da revelação, além do complexo trabalho de escaneamento, tratamento e ajuste de cores, me fazem cogitar vender minhas câmeras analógicas e manter apenas o equipamento digital. Mas basta esquecer a questão financeira por um momento para que as cores e a sutileza dos tons me façam desistir da ideia. Fotografar com filme é simplesmente muito bom.

    Vinte e um anos, doze câmeras, treze lentes, centenas de milhares de fotografias – uma simples coleção de pequenas caixas escuras e elementos óticos que me permitiram ver o mundo de um jeito único. Ah, e muitos cartões de memória.

  • Retratos no Tempo: A Construção de um Projeto de Longa Duração

    Eu não me lembro exatamente quando surgiu o desejo de fazer este projeto, mas sempre pensei em algo relacionado à minha cidade natal, Pomerode (SC). Entre 2010 e 2016, produzi algumas fotografias em longa exposição das paisagens e de algumas casas enxaimel. No entanto, mesmo estando muito envolvido com meu trabalho nessa técnica, sempre senti que faltava algo nessas imagens.


    Em 2018, comecei a estudar o trabalho de alguns fotógrafos, entre eles Bryan Schutmaat, Alec Soth e Nadav Kander. Foram as fotografias do livro Grays the Mountain Sends, de Bryan, com seus belíssimos retratos, paisagens e a poesia presente em cada imagem deste trabalho – que foi desenvolvido em pequenas cidades mineradoras dos Estados Unidos – que acenderam a primeira chama para este projeto. Ainda em 2018 e 2019, fiz as primeiras fotografias usando minha câmera de filme, uma Mamiya RB67.

    Então, 2020 chegou trazendo uma grande reviravolta para todos nós. A pandemia me impediu de dar sequência ao projeto, e assim se passaram cinco anos sem que eu tirasse uma única fotografia para ele. Não que eu não tenha viajado para o sul nesse período, mas as prioridades desse tempo e algo dentro de mim não estavam em sintonia para continuar o trabalho. Me arrependo um pouco de não ter insistido e me dedicado mais, mas, nas poucas e curtas viagens que fiz para o sul, acabei aproveitando para estar com minha família.


    Projetos de longa duração permitem esse intervalo, um respiro na produção para que as ideias se organizem e tomem forma. Minha série Litorâneas levou cerca de quatro anos para que seu principal corpo de trabalho fosse concluído e, ainda assim, continuo produzindo algumas imagens para a série. Um outro exemplo é o trabalho mais recente de Bryan Schutmaat, Sons of the Living, que levou dez anos para ser finalizado. Em entrevista ao podcast Photo Work with Sasha Wolf, Bryan comentou que, desses dez anos, ele se dedicou em média apenas duas semanas por ano à produção das fotografias. Na última semana, estava olhando as imagens do livro King, Queen, Knave (2024), do fotógrafo Gregory Halpern, que começou esse projeto há mais de vinte anos, quando tinha 19 anos e morava em Buffalo, NY, sua cidade natal. Outros trabalhos dele também levaram de cinco a sete anos para serem concluídos.

    No final de fevereiro, viajei para o sul para visitar a família e aproveitar alguns dias extras durante o feriado de Carnaval. Entre encontros familiares, visitas e almoços com amigos, consegui separar duas tardes para fotografar algumas pessoas que falam Plattdeutsch. Foram dois momentos muito especiais, marcados pela simpatia e simplicidade das famílias que me receberam e abriram as portas de suas casas para que eu pudesse registrar esse pedacinho quase esquecido de suas vidas. 

    Nessa viagem, levei minha câmera de filme, minha câmera digital e um gravador de áudio. No início do projeto, em 2019, estava decidido a fazer todas as fotografias em filme colorido. No entanto, ao longo desses cinco anos, os preços dos filmes quase triplicaram, o que me faz considerar a possibilidade de produzir as imagens com a câmera digital. Mas essa decisão ficará para a minha próxima viagem, pois o custo de alguns rolos de filme para uma semana de trabalho pode facilmente cobrir as despesas da viagem e deslocamentos. Para os retratos, fotografei primeiro com a câmera de filme e, em seguida, fiz alguns registros digitais, para que mais tarde eu possa avaliar os resultados com calma e tomar uma decisão baseada não apenas nos custos. Nessas duas visitas, também fiz alguns registros em vídeo com captação de áudio. Ainda não sei exatamente como vou trabalhar com esse material, mas quem sabe em uma próxima newsletter eu já tenha novidades sobre esse aspecto.

    Olhando para trás, vejo esse tempo sem produzir fotografias como um período de amadurecimento, no qual não só pude me aprofundar no tema, mas também refletir sobre a melhor abordagem para fotografar as pessoas. Sei que não tenho mais cinco ou sete anos para concluir este projeto, pois a maioria das pessoas que ainda fala Plattdeutsch já está em idade avançada, o que limita muito o tempo que tenho para registrar esse aspecto da minha história.

    Em breve, compartilharei mais informações sobre o projeto.

  • A ressignificação do nosso litoral

    Tudo começou com a ideia de um projeto fotográfico, que precisava ser apresentado como trabalho de conclusão ao final da especialização que fiz entre 2009 e 2010. A princípio, pensei em fotografar o litoral de Santa Catarina em preto e branco, mas ansiava por algo além de um simples registro, procurava uma maneira de me envolver profundamente com a paisagem que fotografava. Durante os estudos, conheci os trabalhos do fotógrafo americano Carleton Watkins (1829-1916) e do brasileiro Marc Ferrez (1843-1924), que registraram paisagens e transformações nos Estados Unidos e no Brasil. Devido às limitações técnicas da época, a sensibilidade do material fotográfico exigia longas exposições, criando uma estética única para as fotografias de paisagem.

    Na mesma época, descobri o trabalho de Valdir Cruz, fotógrafo brasileiro radicado em Nova York, que produziu uma série de ensaios no Brasil utilizando também a técnica da longa exposição, além de outros fotógrafos como o inglês Michael Kenna, o americano Rolfe Horn e o austríaco Josef Hoflehner.

    Como as câmeras atuais não possuem as limitações técnicas do século XIX, precisei criar essa restrição para fotografar. Comprei um filtro ND, utilizei ISO 50 ou 100 e regulei a abertura da lente para f/16. Dessa forma, consegui que pouquíssima luz chegasse ao sensor da minha câmera. O uso da longa exposição não foi apenas uma escolha estética e de linguagem, mas também uma maneira de desacelerar o processo fotográfico, exigindo o uso do tripé e uma abordagem mais contemplativa. Comecei fotografando locais de fácil acesso em Florianópolis – Itaguaçu, Beira-Mar Norte, Sambaqui – e, ao longo dos anos, fui explorando outras regiões do litoral catarinense.

    Em 2010, fotografei dois locais na parte continental de Florianópolis. Um deles foi a Praia da Ponta do Leal, capturando as pedras Três Irmãs e o trapiche que ficava ao lado delas. Observando imagens aéreas recentes, é possível notar que o trapiche não existe mais. Na época, a construção da Avenida Beira-Mar Continental estava em fase final a menos de 500 metros dali, e atualmente já existe um projeto de ampliação que deve aterrar toda essa área. 

    Alguns meses depois, fotografei a Praia da Saudade onde fica o trampolim (foto Stairway to Heaven), construído em 1957 pelo engenheiro Rui Ramos Soares, numa parceria entre a Prefeitura de Florianópolis e o Clube 12 de Agosto. A estrutura serviu para a diversão dos banhistas por décadas, mas, em fevereiro de 2022, parte do trampolim desabou.

    As rápidas mudanças nas áreas urbanas próximas à natureza mostram como, em apenas 15 anos, podem ocorrer transformações significativas em nosso espaço. Isso faz com que a memória e as lembranças desses locais sejam preservadas apenas em fotografias e vídeos. Quando comecei a produzir as primeiras imagens da série Litorâneas, tinha apenas uma vaga ideia do motivo pelo qual queria fazer essas fotos. Somente anos depois compreendi verdadeiramente como esse conjunto de fotografias se tornou um registro histórico – o “isso foi”, um testemunho visual da existência prévia das coisas, como menciona o historiador francês André Rouillé em seu livro A Fotografia: Entre o Documento e a Arte Contemporânea.

    Muito além da contemplação e do ato quase terapêutico de produzir uma longa exposição – condensando vários segundos e minutos em uma única imagem –, o projeto carrega a intenção de documentar, descobrir e “redescobrir” nosso mundo e nosso litoral por meio da linguagem fotográfica. Criar imagens que ressignificam aquilo que nossos olhos são incapazes de enxergar sem o auxílio do equipamento fotográfico é, ao mesmo tempo, um exercício de percepção e de preservação da memória visual.

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  • Depois de 15 anos, ainda há primeiras vezes

    Este ano completo 15 anos desde que comecei a fotografar minhas primeiras longas exposições. Na época, minhas pesquisas e referências eram quase totalmente voltadas para fotografias em preto e branco. Levei cerca de 3 anos e meio para registrar minhas primeiras longas exposições em cor e, desde então, venho alternando minha produção entre fotografias PB e coloridas, tanto em digital quanto em filme. Somente agora, após esses 15 anos, realizei minhas primeiras longas exposições com filme colorido.

    Sei que, para a maioria das pessoas, não faz a mínima diferença se uma fotografia foi feita com uma câmera digital ou com uma câmera de 30, 40 ou 70 anos. Mas, para nós, fotógrafos, há uma satisfação pessoal nesse processo: o momento nostálgico de carregar o filme na câmera, ajustar o foco e depois ver o resultado com cores, contraste e nuances completamente diferentes daquelas a que estamos acostumados ao olhar para telas.

    A imagem acima foi um desses momentos. No instante da captura, imaginei como a fotografia poderia ficar, mas sem ter absoluta certeza do resultado. Das 10 fotos do filme, uma exposição queimou (erro meu), duas precisei escanear novamente, três ficaram subexpostas e três (talvez quatro) irei compartilhar com vocês. As demais vou deixar guardadas. Melhor assim!

    Mais fotografias da série Analógicas você pode ver no link abaixo:

  • Vamos fazer algo diferente…

    Uma nova newsletter

    Decidi criar um novo espaço, uma nova newsletter para compartilhar, de forma mais pessoal, meus projetos fotográficos, ideias e reflexões sobre a fotografia. Ao contrário das redes sociais, onde o conteúdo se perde rapidamente no fluxo infinito de postagens e o algoritmo decide o que você vê, pela newsletter a informação chega diretamente até você, sem filtros e sem pressa.

    Um dos motivos para essa mudança é a necessidade de um espaço mais tranquilo e focado para apresentar novas séries, compartilhar bastidores e trazer histórias que inspiram minhas imagens, construindo um diálogo mais próximo com quem acompanha meu trabalho. Além disso, quero usar esse canal para falar sobre a fotografia de maneira mais ampla – seja explorando técnicas, compartilhando referências ou discutindo novas formas de ver e registrar o mundo.

    Acredito que esta mudança na forma de compartilhar minhas ideias e trabalho, é semelhante ao que fiz em 2010 quando comecei a produzir minha série Litorâneas. Para o projeto comecei a utilizar a técnica de longas exposições, que ajudou a desacelerar meu processo fotográfico, podendo observar o mundo de uma maneira mais calma. Ser seletivo com o que iria fotografar, pré-visualizar a cena e só depois colocar a câmera sobre o tripé para fazer a longa exposição, fez com que eu deixasse de produzir dezenas de fotografias em cada saída e voltando para casa com algumas poucas. O processo muito semelhante a fotografar com filme, me fez desacelerar e perceber que com menos fotografias, estava muito mais feliz com o significado do meu trabalho.

    O que você pode esperar nesta newsletter:

    • Mais do meu trabalho: Um olhar mais profundo e detalhado sobre o meu trabalho, making-of, fotografias inéditas e novas histórias.
    • Novidades sobre meus projetos: Acompanhe o desenvolvimento e criação do meu próximo projeto fotográfico “Plattdeutsch”, tema que tenho estudado ao longo dos últimos anos.
    • Livros: Detalhes e desafios na criação do meu primeiro livro.


    Espero que esta newsletter seja um ótimo refúgio para você que aprecia meu trabalho.

    Onde mais você pode encontrar sobre meu trabalho:
    Fotografia Fine Art: www.gruetzmacher.com.br
    Instagram: @_gruetzmacher
    Fotografia de Arquitetura: www.grutzfotografia.com.br

    Ou envie um e-mail para: contato@gruetzmacher.com.br

  • De volta ao analógico

    Durante o ano de 2024, trabalhei quase que exclusivamente em duas séries abstratas: primeiro, a série Penumbra II, e durante o segundo semestre na série Fragmentos de Luz. Ambas surgiram da observação e das experimentações realizadas ao longo dos últimos anos, nas demais séries abstratas produzidas a partir de 2020.

    Neste início de ano, levei minha Mamiya RB para a viagem de férias e tirei alguns dias para fazer longas exposições. Essa câmera de médio formato fabricada entre os anos 70 e 90, produz apenas 10 fotos por filme e tem um processo muito mais lento do que qualquer câmera ou celular atual. Não somente pelo ato de fotografar, mas também em todo o processo posterior: revelar o filme, escanear e tratar foto por foto.

    Nestas fotografias utilizei o filme preto e branco Fuji Acros 100, que repousava na minha geladeira desde antes da pandemia. Aproveitei também para fazer algumas fotografias com filme colorido. Apesar de já ter fotografado em cor antes, foi a primeira vez que utilizei filme colorido para longas exposições. Uma das maiores dificuldades que tive com o filme escolhido, foi encontrar valores ou uma tabela detalhada sobre a falha de reciprocidade, o que tornou essa primeira experiência ainda mais interessante.

    Praia da Juréia XVIII + Praia da Juréia XVII

  • Série Unseen World

    Meu primeiro contato com fotografias feitas com o filme Aerochrome acredito que foi em 2014. Talvez tenha visto uma ou outra fotografia na internet, mas não despertaram minha curiosidade até 2014, quando encontrei um exemplar do livro “Infra” do fotógrafo irlandês Richard Mosse, na antiga Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

    Naquela época ainda focado nas séries Litorâneas acabei não comprando o livro, mas fiquei com as imagens na memória. Me arrependo de não ter comprado o livro que na época não era barato, mas tinha um valor justo. Hoje porém, é difícil de achar o livro (somente usado) e tem valores impraticáveis, assim como o próprio filme Aerochrome.

    O filme foi desenvolvido pela Kodak em 1943 durante a Segunda Guerra Mundial, para fins militares e revelar posições inimigas através do infravermelho. A escolha dos tons rosa, púrpura e magenta tinha como função facilitar a distinção do que eram árvores e mata, dos pontos inimigos camuflados. Após a guerra o filme foi popularizado e usado por muitos fotógrafos até 2009 quando o mesmo foi descontinuado.

    Com pouquíssimos (e caríssimos) filmes restantes, iniciei em 2020 minha pesquisa e estudos sobre este filme infravermelho, sua variação tonal, contraste e características de maneira que chegasse numa paleta de cores próxima do processo analógico. Assim apresentei em 2021 as primeiras fotografias da série chamada Unseen World, que combina a técnica de longa exposição à estética bastante peculiar do filme Aerochrome, criando fotografias com uma linguagem singular.

    Para conhecer mais fotografias da série Unseen World, acesse meu site
    https://www.gruetzmacher.com.br/unseenworld

  • Sunburn – Chris Mccaw

    Quando descobri o trabalho do Chris Mccaw em especial a série Sunburn, fiquei aficionado pelo seu processo criativo e como ele produz cada obra da série.

    Tudo começou quando ele deixou uma câmera exposta durante a noite e ao acordar a fotografia havia ficado exposta ao sol e como resultado o papel fotográfico ficou queimado pelo calor intenso da projeção do sol. Chris utiliza papéis vencidos e lentes especiais, algumas delas usadas em telescópios e adaptadas para suas câmeras de grande formato. Assim toda vez que ele produz uma nova fotografia ele aponta sua lente em direção ao sol e registra a passagem do sol queimando o papel fotográfico.

    Por utilizar papel fotográfico, cada fotografia é uma obra única tornando o trabalho ainda mais interessante.

    Para conhecer mais do trabalho você pode acessar o site dele
    https://www.chrismccaw.com

  • Golden Gate Before the Bridge

    Em 2023, durante minhas pesquisas para novas séries, encontrei o trabalho do fotógrafo Richard Misrach. Ao longo de mais de cinco décadas de carreira, Misrach cruzou caminhos com o renomado fotógrafo Ansel Adams.

    Ambos compartilharam um profundo interesse em documentar as paisagens norte-americanas, cada um com sua visão e abordagem particular. No entanto, uma fotografia em especial, que os dois têm em comum, chamou minha atenção.

    A fotografia acima, de Ansel Adams, foi tirada um ano antes do início da construção da ponte. Já a série de imagens de Richard Misrach, intitulada Golden Gate, foi iniciada 60 anos após a conclusão da obra. Nesta série, ele explora a vista de sua casa, registrando a ponte ao fundo em diferentes momentos do dia, capturando as variações de luz ao longo do tempo.